sexta-feira, 17 de outubro de 2008

To be continued....

Lembram-se do Lucas, aquele que tinha medo de aranhas, queria ser comediante e conheceu o amor de sua vida em um elevador após um blecaute? Pois é , no final de sua história ele encontrou o grande amor de sua vida e os dois tiveram 3 filhos. Se alguém tiver boa memória vai se lembrar que um dos filhos dele, é, digamos, meio-estranho...
Bom, vou tentar contar como tudo começou... Havia muitos anos que Lucas havia perdido o seu medo por aranhas, se tornando um exterminador de aracnídeos. Depois de casado, teve três filhos: Roger, Manuel e Steve. Isso faz uns 20 anos. A história que interessa acontece com o filho do meio, o Manuel.
Nasceu em uma sexta-feira 13, e dizem as más línguas, num dia em que teria jogo da Seleção Brasileira. Nasceu com saúde, com 55 cm e pesando pesadamente 4,5 KG. Não era daquelas crianças que abrem um berredo por qualquer coisa, era um garoto calmo, pra não dizer frio e calculista. Em muitos anos, a única vez em que chorou foi quando o médico deu aquele famoso tapinha na bunda para “desafogar”, mas dizem que após chorar, o garoto apontou para o médico com o dedo indicador como quem prometendo “um dia vc vai me pagar”.
Aprendeu a falar cedo, antes mesmo de andar. Os pais perceberam que ele tinha vocação para falar, apesar de ser calmo e não desperdiçar palavras de varde. Diferente de outras crianças de sua idade ou até muitos anos mais velhas, não tinha nenhum medo do escuro, muito pelo contrário, gostava sempre de estar “à sombra”. Até os Cinco anos, duas paixões se evidenciaram: assistir o Linha-Direta e os jogos do Internacional, estes eventos sempre acompanhados de risos sádicos e sarcásticos, em tom de tragédias e deboches.
Alguns anos passaram e na escola inventava brincadeiras estranhas, como “vamos brincar de agente funerário?” Ou “quem agüenta mais tempo sem respirar?”. Ao pegar o jornal, ia direto nas paginas policiais, e após comentava, “Nossa, SÓ morreram 10 pessoas este final de semana!”.
Seu pai achava graça, “esse garoto vai longe”, “longe mesmo, hahahahahaha” pensava o Manuel. Alguns vizinhos tinham depoimentos curiosos sobre Manuel:
- “Um dia eu estava estendendo a roupa no varal e vi que o garoto brincava de um modo meio diferente, por curiosidade fingi que estendia a roupa e fiquei observando um pouco: sentado na calçada com outras crianças amigas dele, ele falava para todas fecharem os olhos e começava a falar. Fiquei um tempo acompanhando e percebi que, aos poucos, um por um dos amigos desistia da brincadeira, saia correndo chorando, gritando ou mesmo calmo, mas com os olhos fixos em alguma coisa. Fiquei mais curiosa ainda, mas não entendi por que isso acontecia. Falei pro meu filho ir brincar com ele pra descobrir o que acontecia. Meu filho se envolveu com ele, mas um dia voltou chorando pra casa, perguntei a ele o que tinha acontecido ele falou que foi por causa de uma brincadeira, que ele e mais alguns garotos sentavam em rodas e fechavam os olhos, então o Manuel começava a falar as coisas mais terivéis que podiam existir, como contar como tinha sido o Xuxa Park, notícias sobre os Backstreet Boys, lances do jogo do Inter ou mesmo coisas normais que podem ocorrer com um assaltante ou uma prostituta, um político ou juiz de futebol, e quem não agüenta-se teria que sair da roda. Quando ele contou isso eu pude entender melhor as cenas que já havia presenciado anteriormente, pelo que eu entendi era uma espécie de prova de resistência de emoções. Pedi por meu filho o que foi que fez ele desistir e chorar, ele disse que o Manuel começou a falar das eliminatórias para a copa de 2002, de seleção, de Romário, de amarelada, aí , ele disse que não deu mais pra agüentar. Mas falou triunfante, que tinha gente que tinha saído da roda, por menos que isso, quando falaram do KLB, por exemplo. É sem dúvida, uma brincadeira diferente, acho que o Manuel deve ser mais uma mente criativa dessa nova geração que será o futuro da humanidade!”
Bom, com certeza o Manuel inventava brincadeiras diferentes e originais, mas depois dos 13 anos e que a coisa ficou séria, começou a sair e chegar mais tarde em casa, gostava de usar roupas pretas, gostava de tatuagens de cruz, o seu quarto era cheio de imagens bizarras, fotos de políticos, uma flâmula do Íbis e outra do Flamengo, rótulos de refrigerantes e redes de pesca, além de replicas de caixões e tumbas, sarcófagos, além de uma faixa com uma frase escrita com uma “tinta vermelha” que dizia “Elvis não morreu, eu falo com ele todos os dias”.
As pessoas ficavam curiosas com seu jeito, gostava de visitar velhinhos em ázilos e doentes em hospitais. Os visitados se admiravam com o garoto: “é um garoto super especial, além de ter uma enorme vocação para o ramo que gosta, que como ele falou, é a enfermagem, ele me demonstrou isso ao realizar a coleta de sangue para a campanha que ele está movimentando “doe um pouquinho do seu sangue e seja mais feliz”. Acho que o pouquinho é modo modesto de dizer, já que coletava bastante sangue, mas nada que vá fazer falta um d...” (muitas pessoas como esta não conseguiam terminar o depoimento, caindo ao chão, provavelmente muito emocionadas e engajadas na campanha).
Com o tempo, começou a se interessar pelo modo de funcionamento de um Necrotério e decidiu fazer uma pesquisa, estudando a rotina de quem trabalha lá, trabalhando junto durante determinados momentos como na hora da autopsia do cadáver, por exemplo. Gostava tanto daqueles momentos que lhe faziam dar várias gargalhadas, as mesmas sádicas de sempre, é claro. Mas era sua característica e todos o admiravam pela sua coragem e frieza, do modo como ele cortava o cadáver, sem nenhum preconceito, demonstrava tanto prazer em fazer aquilo, isso era visível quando chegava um cadáver, o cara olhava pra ele e falava “chegou mais um”, ele então olhava pro cara, esfregava as mãos e falava empolgado “oba”. O diretor do necrotério gostou tanto desta postura que o convidou para trabalhar lá. Está foi a segunda vez que chorou na vida, mas logo estava dando risadas, é claro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ge, que hilária a sua história!! Eu também tenho o hábito de colocar humor nas tramas e isso faz muita diferença! Parabéns, não sabia que tinha um colega escritor. Muito, muito bom!!
Beijos
PS: Continue escrevendo ;)
Kelly